quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Jonas: conversão e missão - encontros com o povo – 4

CNBB*

Aprofundamento 4: Tu és um Deus de misericórdia e ternura (Jn 4,2c)

O livro de Jonas trata, antes de tudo, da universalidade da misericórdia divina. Deus foi clemente com os marinheiros, impedindo que o barco afundasse; perdoou os ninivitas; teve compaixão de Jonas afligido pela irritação; enfim, a benevolência divina se estendeu até aos animais.

Arrepender-se e contar com a misericórdia de Deus não é um tema estranho, mas bastante desenvolvido pelo pensamento bíblico. Contudo, Jonas se recusa a pedir aos ninivitas que se arrependam. Jonas está limitado por sua “verdade”, segundo a qual Deus é amor e ternura para Israel e fúria e castigo para as nações. Jonas se irrita porque deseja ver Nínive destruída. Mas o clímax desse livro é exatamente mostrar que o Deus de Israel é compassivo até mesmo para com os piores inimigos do povo da aliança, os ninivitas. O Senhor é graça e misericórdia para com as nações e agirá com severidade também para com Israel. Por isso que na liturgia judaica, o livro de Jonas é lido no Dia do Perdão (Dia da Expiação, cf. Lv 16,1-34) quando todos os judeus fazem penitência e jejuam durante vinte e quatro horas pedindo perdão pelos pecados.

O último capítulo do livro de Jonas deixa claro, com fina ironia, que por duas vezes Deus salvou os pagãos através do nosso protagonista. No início do livro, uma terrível ameaça de morte pesava sobre os pagãos no barco. Agora o mesmo acontece aos ninivitas: os pagãos clamam a Deus, convertem-se e são salvos.
Isso irrita Jonas profundamente. Ele não quer ser missionário porque não deseja a salvação dos “maus”, mas a destruição deles. A verdadeira razão da fuga de Jonas não era o medo dos desafios ou de que os ninivitas lhe fossem hostis. O motivo da fuga foi o medo de se tornar um instrumento da misericórdia de Deus em favor dos ninivitas (Jn 4,2). Jonas sabia que, se o Senhor o enviava para Nínive, era porque tinha a intenção de salvá-la, pois se quisesse destruí-la o teria feito sem avisar.

Para Jonas, seria melhor morrer que lidar com o amor de Deus para com Nínive e fica profundamente irritado porque os ninivitas foram salvos. A misericórdia do Senhor sobre os ímpios vai contra tudo que Jonas acreditava e no qual baseava a própria vida. Jonas não vê sentido em continuar vivendo, seu mundo caiu, pois Deus faz tudo ao contrário do que ele pensa. Para Jonas, a atitude do Senhor em relação à Nínive e à mamoneira é motivo de grande decepção. À primeira Deus deveria ter destruído, à segunda deveria ter salvo. Deus, porém, recusou-se a seguir os esquemas de Jonas.

O final do livro é surpreendente. Jonas, afinal, é quem está agindo fora da lógica de Deus: sente misericórdia por um vegetal efêmero e deseja a morte de uma multidão de seres humanos.

Este é o sinal de Jonas mencionado por Jesus: a proclamação do Reino de Deus às nações e a ressurreição de Jesus [1] significam que Deus não segue os planos da humanidade, mas os seres humanos é que devem aderir ao seu projeto de redenção, o que implica a necessidade de conversão não somente dos ouvintes, mas também do missionário. Alguns judeus ao se dirigirem a Jesus estavam na mesma atitude de Jonas e por isso lhes foi dado o sinal de Jonas. Hoje, o mesmo sinal é dado aos cristãos.

Chegamos ao final do livro, cuja trama converge para uma pergunta da parte de Deus: “E não teria eu misericórdia de Nínive, a grande cidade?” (Jn 4,11). Esta pergunta do Senhor deixa o livro com o final aberto. Trata-se de um convite à meditação sobre que concepções os leitores de todos os tempos tem de Deus.

Notas:
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[1] Cf. CHOW, Simon. The Sign of Jonah Reconsidered, Stockholm: Almqvist & Wiksell, 1995.

*CNBB - Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética. Mês da Bíblia 2010 - Texto para o povo. Elaborado por Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj.

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