segunda-feira, 25 de julho de 2022

A REVELAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

 

Não existe um termo técnico para fazer essa designação, mas ela é entendida como a intervenção de Deus na história do povo de Israel por iniciativa do próprio Deus.

Ele se revela através da sua palavra. O povo de Israel é o povo da escuta da palavra, a Palavra de YHWH. “É com sua palavra que Deus introduz progressivamente o homem ao conhecimento de seu ser íntimo, até o dom supremo de sua Palavra feita carne” (LATOURELLE; FISICHELLA,1994, p. 818).

No Antigo Testamento, vemos as etapas pelas quais a revelação foi perpassando pela história do povo. O ambiente oriental é marcado por várias expressões para adentrar o mistério dos deuses. Essas expressões, que designavam magia, adivinhação, sonhos, foram sendo purificadas e dando lugar à experiência da Palavra a partir dos profetas. Deus se revela ao seu povo, escuta seu clamor e faz uma Aliança com ele. Agora o povo pertence a Deus. Dois marcos na história do povo de Israel que confirmam essa experiência da palavra são: a libertação do Egito e a libertação do Exílio. 

A revelação é progressiva, se dá ao longo da história. Em suas etapas, encontramos a revelação aos patriarcas/matriarcas, a mosaica, a profética e a sapiencial. Cada uma com sua especificidade, mas tendo como objeto, em todas as etapas, a revelação do próprio Deus e do seu desígnio de salvação para o ser humano.

Na primeira etapa, que começa com Abraão e Sara, “a revelação divina se faz mistério de encontro pessoal do Deus vivo com o homem. Nela Deus não somente se dá a conhecer como, além de disso, chama o homem e o convida a escutar e obedecer com uma disponibilidade ativa” (AREÑAS, 2001, p. 88).

Em seguida, na aliança mosaica, se dá a experiência da revelação do nome de Deus e o evento da libertação dos hebreus do Egito. Deus faz Aliança com seu povo e lhe dá as “dez palavras”, a Lei. O povo deve servir e adorar o Deus único e verdadeiro, deve ter a sua palavra em seu íntimo nessa relação de amor e liberdade.

Com o profetismo, vem uma nova etapa da revelação. O profeta é o mediador, que escuta a Palavra de Deus e a transmite ao povo. “O profeta tem consciência de não ter procurado esta palavra, de que esta não vem dele, mas de Deus. Se recebeu esta palavra, é para transmiti-la, para torná-la pública, para anunciá-la” (LATOURELLE; FISICHELLA, 1994, p. 820). A palavra é dinâmica e vai acontecendo na história do povo. Este vai tomando consciência da intervenção divina nos acontecimentos.

Diferentemente da questão histórica e do profetismo, apresenta-se a literatura sapiencial, a qual mostra como Deus se revelou ao ser humano e como este compreende que “a sabedoria se identifica plenamente com a palavra de Deus, criadora e reveladora (Sb 7-9)” (AREÑAS, 2001, p. 92). O livro dos Salmos assume essa perspectiva, fato que interfere, a partir de então, no modo de Israel orar a Deus.

Na revelação no Antigo Testamento, vemos como característica presente a relação pessoal com o Deus vivo e verdadeiro, diferente dos ídolos. Uma relação de alguém que fala com alguém que escuta e responde. A Aliança que Deus faz com o povo garante a fidelidade divina, apesar da infidelidade humana, numa relação na qual Deus tem a iniciativa do encontro com o ser humano. Também é característica marcante o fato de a Palavra de Deus dá unidade à economia da revelação. A Palavra confronta o ser humano a tomar uma posição, quer seja de adesão quer seja de recusa.

Diante de todo esse percurso da revelação no Antigo Testamento, lembramos a sua importância para os cristãos, pois a revelação a Israel prepara e anuncia a vinda do messias. A revelação não se encerra no Antigo Testamento, mas prossegue para a Nova Aliança.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LATOURELLE, R. – FISICHELLA, R. (Dir.). Dicionário de Teologia Fundamental. Verbete “Revelação: III – Revelação Veterotestamentária”. Petrópolis: Vozes; Aparecida: Santuário, 1994.

ARENAS, R. O. Jesus, epifania do amor do Pai. Teologia da revelação. São Paulo: Loyola, 2001.

 

Ir Edmara Ferreira de Lima é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Possui graduação em biblioteconomia pela UFC, é aluna do bacharelado em teologia na Universidade Católica de Pernambuco.