sexta-feira, 27 de junho de 2014

Profetas e Profetismo em Chave Histórica 01

Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj* 
(Material Didático do Curso de Extensão na Faculdade Católica de Fortaleza)




1. Terminologia

O termo “profeta” provém do grego prophetes (προφήτης) e designa as pessoas que tem a missão de anunciar, comunicar, tornar pública uma mensagem.

Nabî (נביא) é usado mais de 300 vezes para o que chamamos profetas. Trata-se de uma forma passiva do verbo naba' (נבא)significando “o chamado”, isto é, aquele que recebeu uma vocação para ser porta-voz da palavra divina. A ação do profeta depende, fundamentalmente, de um impulso externo de origem divina, não é fruto de sua própria iniciativa. Esse termo tinha uma conotação negativa, por isso o primeiro a se identificar como profeta foi Jeremias (Jr 1,5). Amós recusa-se a ser enquadrado nesta categoria (Am 7,14).



Ro'eh (ראה), derivado do verbo ra'ah, significando “aquele que vê”. De acordo com 1Sm 9,9 “antigamente, em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia: Vinde, vamos ter com o vidente (ro'eh); porque ao profeta (nabî) de hoje, antigamente, se chamava vidente (ro'eh)”. Era alguém capaz de conhecer coisas ocultas e que era consultado a troco de algum dinheiro (1Sm 9,7-8). Exemplos: água amarga (Ex 15,23-25), as jumentas de Cis (1Sm 9,3-9); sopa envenenada (2Rs 4,38-41).

Chozeh (חוזה), aquele que tem visões (chazon, חזון) extáticas ou que as interpreta. Gad, na corte de Davi, é designado como “visionário de Davi” (2Sm 24,11). Sua função era aconselhar o rei a respeito de sonhos e visões.

Profetas da corte: atuam como conselheiros do rei, em cujo nome consultam a Deus a respeito de seus empreendimentos. Este tipo de profetismo, com muita facilidade, tornava-se corrupto, mais preocupado com o que podia agradar ao monarca e não com a autêntica vontade de Deus.

Profetas cultuais: atuavam nos santuários espalhados pelo país, a quem o povo consultava a exemplo dos oráculos da tradição grega (oráculo de Delfos). A associação do sacerdócio com o sacrifício é posterior, no final de um longo processo histórico. Nos primeiros tempos se acentuava mais as funções oraculares dos sacerdotes (1Sm 2,28). O povo ia a eles principalmente “para consultar a Deus” (Dt 33,8-10), ou seja, para saber a vontade divina para casos concretos.

urim e o tumim eram os instrumentos usados na consulta (1Sm 23,6-12), eles eram guardados no peitoral preso ao efod (Ex 28,28-30). Também há o caso mencionado em Os 4,12 (significado incerto de 'ets (עץ) que pode ser madeira, pedaço de madeira, árvore, forca). O livro dos juízes menciona o “carvalho dos adivinhos” (Jz 9,37) e 1Cro 14,14-16 fala sobre os “passos do SENHOR sobre a copa da amoreira”.

Filhos de profetas (בני הנביאיםbene ha nebiim (1Rs 20,35; 2Rs 2,3.5.7.15; 4,1.38; 5,22; 6,1; 9,1. Am 7,14). Elias e Eliseu são apresentados em estreita relação com as comunidades de profetas.
Êxtase: Podia ser provocado por meio de música e dança (1Sm 10,5-6; 1Rs 18,26ss). O profeta com fama de louco: Os 9,7. Nem todo “maluco” é profeta: Jr 29,26.

Fórmula de mensageiro: típica da pregação profética e tirada da linguagem diplomática do Oriente Próximo – “Assim fala o SENHOR”, “Palavra do SENHOR”, “Oráculo do SENHOR”.
Querela jurídica (ריבrib): os profetas apontavam os atos concretos onde o pacto fora rompido A denúncia fundava-se na invocação das cláusulas da Aliança (Os 4,1; Mq 6,1-2).

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* Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas).