CNBB*
No final do século V AC, ou início do século IV aC, os judeus estavam incomodados porque, apesar de todas as profecias contrárias, uma nação após outra investia contra Israel. Os judeus se perguntavam porque o Senhor ainda não tinha julgado e castigado os ímpios. Naquela época, no retorno do exílio da Babilônia (por volta de 530 aC), os descendentes de Abraão se fecharam num gueto e tomaram uma postura extremamente nacionalista e de repúdio a todos os que não pertenciam à descendência de Israel.
O livro de Jonas quis mostrar às pessoas daquela época que uma atitude extremamente nacionalista significava uma negligência, por parte dos descendentes de Abraão, de sua vocação mais sublime que é ser uma bênção para as nações, luz do mundo e sal da terra.
Se Deus quis abençoar todos os povos através de Abraão, isso é sinal de que não quer destruí-los, mas achegá-los a si. O Senhor ainda não julgou as nações porque falta alguém que anuncie a misericórdia de Deus para com os ímpios. Falta a proclamação do perdão divino.
O livro de Jonas tem como tema a misericórdia e o perdão de Deus para todos, não apenas para os bons ou religiosos. O Senhor é compassivo para com judeus e gentios e, não só para com os seres humanos, mas também em relação aos demais seres da criação. No livro de Jonas é afirmado que a misericórdia de Deus foi estendida até mesmo sobre o pior império que já existiu, representado nesse livro bíblico pela grande cidade de Nínive. O autor bíblico quer convencer os leitores de que o fato de uma pessoa não pertencer ao povo de Israel não a torna um mau sujeito. Atualizando Jonas, pode-se dizer que se uma pessoa não pertence à nossa religião/Igreja isso não significa que seja inimiga de Deus ou pecadora. Da mesma forma que afirma a misericórdia de Deus para todas as pessoas, o livro de Jonas critica a quem se acomoda ou se recusa a anunciar o perdão e o amor divinos para aquelas ovelhas que ainda não estão no aprisco do Senhor.
Desde o início, os estudiosos desconfiaram que o personagem Jonas não é histórico no sentido exato, por causa de alguns paradoxos presentes na narrativa:
- nenhuma criatura marinha é capaz de engolir um homem inteiro e mantê-lo vivo no estômago por três dias;
- não consta no livro o nome do rei assírio que decretou a penitência e não há nenhum registro disso nos antigos documentos da Assíria encontrados pela moderna arqueologia;
- em muitas lendas das civilizações antigas há menção a alguém que é tragado por um grande peixe e depois se safa de forma extraordinária;
- o livro de Jonas nem uma vez menciona os termos Israel, profecia e profeta.
- o termo hebraico kikayon quer dizer “efêmero” e, geralmente, é traduzido por mamoneira, mas nenhuma planta desse tipo cresce numa noite e seca em uma hora.
O livro de Jonas não é uma narrativa com exatidão histórica. Mas os acontecimentos históricos estão por baixo do personagem que foi criado para transmitir uma mensagem. Não existiu de fato um Jonas, mas vários Jonas, ou seja, todas as pessoas daquela época que estavam negligenciando a missão de falar da misericórdia de Deus para todas as nações. A ficção foi criada para denunciar, com maior ênfase, a realidade histórica da época do autor e de seus primeiros leitores. Jonas é uma novela humorística, do mesmo gênero literário como aquelas que passam na TV, mas é através do humor e da ficção que o autor denuncia o nosso comodismo.
É importante ler o texto dentro do seu contexto para não corremos o risco de ficarmos com a leitura do livro de Jonas ao pé-da-letra, impedindo-nos de perceber a grande verdade que é dita por trás do humor.
*CNBB - Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética. Mês da Bíblia 2010 - Texto para o povo. Elaborado por Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj.
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