CNBB*
Aprofundamento 1: Levanta-te, vai à grande cidade e proclama... (Jn 1,2)
Com a expressão “o Senhor dirigiu a palavra a...” o texto bíblico nos remete aos antigos profetas. Mas a profecia não é previsão do futuro e sim Palavra de Deus ao ser humano por intermédio de um porta-voz, o profeta. Entretanto, a atitude de Jonas é oposta às dos antigos profetas. Estes, estavam sempre diante da face de Deus (1Rs 18,15; Jr 15,19), numa atitude típica de obediência. Jonas, contudo, vai para longe da presença do Senhor. Em Is 66,19, Társis é uma das comunidades que nunca ouviu falar do Deus de Israel; portanto, naquela época se acreditava que a presença de Deus não estaria naquele lugar. E é para lá que Jonas pretende ir fugindo de Deus e de sua missão profética.
Estar “longe da face do Senhor” significa uma atitude de rebeldia. Essa expressão só ocorre mais duas vezes na Bíblia e se refere a Caim (Gn 4,13.16). Então, o autor sagrado quer nos mostrar a semelhança entre Jonas e Caim. Ambos facilmente se irritam contra Deus (Gn 4,5; Jn 4,4) e o Senhor lhes pergunta o motivo da irritação (Gn 4,6; Jn 4,9).
A raiva de ambos contra Deus é porque o Senhor não age conforme eles gostariam que agisse. Caim tem ciúmes da relação de Deus com Abel e isso o move a desejar a morte do irmão. Depois foge da face do Senhor porque sua rebelião o tornou um assassino. Jonas foge da face divina porque tem ciúmes do Senhor com os habitantes de Nínive. Para entender essa postura de Jonas é necessário conhecer a época na qual viveu o autor do livro, que determina a trama da narrativa.
Quando o livro de Jonas estava sendo escrito, a cidade de Nínive já havia sido destruída há quase três séculos (foi arrasada pelos babilônicos em 612 aC). Mas essa grande capital da Assíria entrou para a história do povo da Bíblia como símbolo do pecado e da violência. Representava o paganismo, igualada apenas às lendárias cidades de Sodoma e Gomorra (Gn 13,13; 18,20-21). Mas Deus não queria condenar a grande cidade, apesar dos muitos pecados que existiam nela. O Senhor queria salvar Nínive e por isso enviou Jonas. O autor bíblico está tão interessado em enfatizar a importância dos ninivitas para Deus que o nome da cidade aparece no início (Jn 1,1), no meio (3,1) e no fim da narrativa (4,11).
Nínive é descrita em menos de um versículo. Suas principais características são: ser uma grande cidade e ter vivido uma iniqüidade que chegou até Deus. Três dias seriam necessários para atravessá-la (Jn 3,3), enquanto a antiga Jerusalém era percorrida em menos de uma hora; mas a expressão “três dias” ou “terceiro dia” tem um significado teológico: é um jeito de expressar o tempo da salvação ou da ação de Deus em favor do justo (cf. Os 6,2). Na realidade, Nínive, no livro de Jonas, é uma cidade simbólica. É a cidade da injustiça (1,1), é o símbolo do mundo pagão.
O autor de Jonas escolheu a cidade de Nínive para simbolizar um mundo sem Deus porque a capital do antigo império assírio entrou para a história como implacavelmente cruel, com suas “guerras de conquistas, espoliações, deportação de populações, trabalhos forçados, imposição de tributos exorbitantes, inúmeros saques, terras devastadas” [1].
Apesar de tantos anos terem se passado, Nínive continuava sendo o símbolo da “injustiça, da crueldade, do sangue derramado, em suma, o símbolo do mal” (Idem).
Na mentalidade de um judeu daquela época não podia haver gente pior que os ninivitas, mas autor bíblico afirma que foi para com eles que o Senhor demonstrou muita misericórdia apesar de conhecer seus graves pecados.
Nota
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[1] MORA, Vincent. Jonas, São Paulo: Paulinas, 1983, p.29.
*CNBB - Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética. Mês da Bíblia 2010 - Texto para o povo. Elaborado por Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj.
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