quinta-feira, 21 de abril de 2022

ENCONTROS PASCAIS: TOPAR COM O CRISTO RESSUSCITADO

 
Estamos vivenciando a alegria da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tal acontecimento é tão maravilhoso aos nossos olhos que não pode ser encerrado em um dia. A Liturgia nos anima a viver o Domingo da Ressurreição durante oito dias: a oitava da Páscoa. Relatos dos Evangelhos narram os encontros de Jesus com as discípulas e discípulos, que passam a ser testemunhas do Ressuscitado.

As narrativas nos ajudam a perceber a profundidade do mistério que nos envolve e traz ressignificação para a vida. O Jesus que se revela vencedor da morte não é outra pessoa, não é um fantasma, é o mesmo que foi crucificado: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu!”. (Lc 24, 39). Como reagir diante de tão grande surpresa? Vários foram os sentimentos dos discípulos: espanto, temor, dúvida, alegria...

O anúncio da Ressurreição foi feito à Maria Madalena, uma mulher, que mesmo numa sociedade que a coloca à margem, sem voz e sem vez, não se cala diante do pedido de seu Mestre amado: “Não temais! Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galileia; lá me verão” (Mt 28, 10). Maria Madalena que, na dor da ausência do Mestre, não o reconhece quando este aparece, mas ao escutá-lo chamando seu nome, tem os olhos abertos e pode exclamar: “Eu vi o Senhor!” (Jo 20, 18).

Mesma experiência acontece com discípulos de Emaús. No caminho, saídos de Jerusalém para um povoado próximo, os acontecimentos dos últimos dias eram muito pesados, conversavam, sem dúvida, sobre a tristeza, a frustração e a incerteza da vida sem o seu Mestre. Jesus aparece e os acompanha pelo caminho, mas os olhos dos discípulos estão fechados, como estão fechados também os seus corações. No diálogo pelo caminho Jesus pergunta pelos acontecimentos, escuta e explica os fatos à luz das Escrituras. Aproximando-se do povoado eles pedem que Jesus fique, pois a “tarde cai e o dia declina”. Jesus ficou e, à mesa com eles depois da bênção e partilha do pão, os olhos dos discípulos se abrem e o reconhecem. E diante de tão grande alegria dizem um ao outro: “Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 32). E voltaram para anunciar aos outros discípulos que tinham visto o Senhor Ressuscitado.

Na continuação dessa narrativa vemos Jesus que se apresenta no meio deles e diz: “A paz esteja convosco!” (Lc 24, 36). A paz que só o Ressuscitado pode nos dar. Mesmo diante de tantos sentimentos que temos nos momentos de perda, de dor, de frustração como os discípulos naquele momento, Jesus se apresenta como a nossa paz. E diz aos discípulos e a nós hoje: “não fiqueis perturbados e não tenhais dúvidas em vossos corações, sou eu mesmo!” (Lc 24,37).

Só podemos falar daquilo que conhecemos. O conhecimento adquirido na vivência diária da troca, da partilha, do relacionamento íntimo, nos conduz ao amor. Amor doado que nos permite reconhecer Jesus Ressuscitado. A comunidade reunida no seu cotidiano, no seu trabalho, também é convidada a reconhecer o Mestre, assim como o discípulo que Jesus amava o reconheceu às margens do mar de Tiberíades: “É o Senhor!” (Jo 21, 7). O Senhor que nos orienta onde pescar e se reúne conosco para nos alimentar.

A Ressurreição de Jesus é vida nova para todos. Eis o seu envio: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Mas a limitação dos discípulos não os permite, no primeiro momento, ter os olhos abertos para reconhecer o Cristo Ressuscitado. Jesus como Mestre amado, também nessa nova realidade, censura-lhes a incredulidade e a dureza de coração (Mc 16, 14). Todos somos convidados a fazer a experiência com o Cristo Ressuscitado.

O testemunho é consequência da experiência com o Senhor que nos amou e amou até o extremo, a cruz. Padre Caetano Minette de Tillesse dizia que a “Ressurreição significa deixar Deus fazer o projeto dele em nós”. Viver e proclamar a Boa Nova, o Cristo Ressuscitado, “topar com Deus” transforma todo o nosso ser e não há como ficar imparcial diante de tão grande Amor e Mistério.

O período pascal continua, que esses mesmos encontros que meditamos na oitava da páscoa, nos ensinem a reconhecer Jesus Ressuscitado no nosso cotidiano. Que o medo e a dureza de coração deem lugar a fé, fidelidade e coragem no anúncio da Boa Nova.


Referência Bibliográfica

BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. 

 

Ir Edmara Ferreira de Lima é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Possui graduação em biblioteconomia pela UFC, é aluna do bacharelado em teologia na Universidade Católica de Pernambuco.