O episódio da adoração dos hebreus ao bezerro de ouro, narrado em Ex 32, deu-se enquanto Moisés orava no monte e representou uma grave infidelidade do povo à aliança feita com YHWH. O fato ocorreu durante a travessia do deserto rumo à terra prometida, após a saída do Egito. Certamente não era um período marcado por confortos e facilidades, e, se esse contexto não justifica, ao menos explica um pouco o que se passava no coração daquelas pessoas. Digo isso porque muitas vezes nós também, nas “travessias” da vida, passamos por grandes dificuldades e tribulações, que nos levam a nos confrontar com a nossa fidelidade ao Deus em quem depositamos nossa fé, de quem os mandamentos nos comprometemos a cumprir.
Diante das dificuldades, geralmente, determinadas “ofertas” de “facilidades” podem se manifestar, e que depois acabam custando “caro”. Assim foi a confecção do bezerro para ser adorado pelo povo, e tantos outros episódios de murmuração e infidelidade no deserto, como o das águas de Massa e Meriba e o da serpente de bronze.
O bezerro, o touro ou o boi tinham e ainda têm, para algumas culturas, como a do Antigo Egito, da Samaria e da Índia atual, a simbologia de força, virilidade e fertilidade, geralmente relacionadas à realeza do monarca. Diante da fome, da sede, dos cansaços, do calor e das incertezas do deserto, que se agravam na ausência do seu líder Moisés, a comunidade decide depositar as suas esperanças em ídolos feitos por mãos humanas, com ouro, que, embora seja precioso, é uma matéria perecível, por ser mera criatura do único e verdadeiro Deus, que poderia salvá-los e confortá-los com seu amor misericordioso, que escuta o clamor do seu povo e perdoa suas infidelidades.
Os tempos atuais, com suas tecnologias e inovações, embora nos tenham trazido fartura e conforto, diferentemente do povo no deserto, são marcados também pelo individualismo, secularismo, relativismo e tantas outras ideologias que tiveram como consequência um profundo vazio existencial, que praticamente se transformou numa espécie de epidemia. O homem encontrou cura para muitas doenças, aprendeu a controlar a natureza, a transportar-se e comunicar-se mais rápido, mas ainda não aprendeu o sentido de uma vida doada a Deus e aos irmãos.
É esse o contexto em que estamos inseridos e em que surgem as tecnologias digitais, que tanto nos têm trazido facilidades para nos comunicarmos, para acessarmos conhecimentos e para consumirmos novos serviços, sobretudo neste tempo de isolamento e pandemia. No entanto, essas facilidades tendem a ocultar o “deserto” em que se transformou o espírito de tantos homens e mulheres, que, em vez de utilizarem essas mídias como meios – conforme indica o próprio nome – para fins nobres, como a solidariedade e a partilha do conhecimento, prendem-se a tais tecnologias, como se fossem fins em si mesmos, o que resulta em dependências afetivas não só das pessoas com quem se comunicam, como das próprias plataformas que utilizam.
Assim como o ouro, as tecnologias também são criadas por Deus, que deu inteligência ao ser humano. E é desejo seu que utilizemos dos meios disponíveis na criação para aperfeiçoarmos a nossa vida e a de nossos semelhantes. Mesmo assim, por desígnios que muitas vezes não conseguimos compreender, Ele permite que enfrentemos tribulações, como as que o povo passou no deserto e os tantos males humanos, psíquicos, sociais e espirituais pelos quais passamos hoje. No entanto, não podemos nos fiar no ouro e na prata, nem mesmo na tecnologia, como a garantia de que nossos problemas serão resolvidos, assim como o povo confiou na suposta força trazida pelo bezerro. Não é nas criaturas, mas somente em Deus que devemos colocar a nossa confiança, acreditando no seu amor gratuito e generoso, que nos dá força para enfrentar todos os perigos, sem desprezar os meios que temos à nossa disposição para nos ajudar, mas também sem nos apegarmos a eles, de modo que nos afastem do Criador.
Diante das dificuldades, geralmente, determinadas “ofertas” de “facilidades” podem se manifestar, e que depois acabam custando “caro”. Assim foi a confecção do bezerro para ser adorado pelo povo, e tantos outros episódios de murmuração e infidelidade no deserto, como o das águas de Massa e Meriba e o da serpente de bronze.
O bezerro, o touro ou o boi tinham e ainda têm, para algumas culturas, como a do Antigo Egito, da Samaria e da Índia atual, a simbologia de força, virilidade e fertilidade, geralmente relacionadas à realeza do monarca. Diante da fome, da sede, dos cansaços, do calor e das incertezas do deserto, que se agravam na ausência do seu líder Moisés, a comunidade decide depositar as suas esperanças em ídolos feitos por mãos humanas, com ouro, que, embora seja precioso, é uma matéria perecível, por ser mera criatura do único e verdadeiro Deus, que poderia salvá-los e confortá-los com seu amor misericordioso, que escuta o clamor do seu povo e perdoa suas infidelidades.
Os tempos atuais, com suas tecnologias e inovações, embora nos tenham trazido fartura e conforto, diferentemente do povo no deserto, são marcados também pelo individualismo, secularismo, relativismo e tantas outras ideologias que tiveram como consequência um profundo vazio existencial, que praticamente se transformou numa espécie de epidemia. O homem encontrou cura para muitas doenças, aprendeu a controlar a natureza, a transportar-se e comunicar-se mais rápido, mas ainda não aprendeu o sentido de uma vida doada a Deus e aos irmãos.
É esse o contexto em que estamos inseridos e em que surgem as tecnologias digitais, que tanto nos têm trazido facilidades para nos comunicarmos, para acessarmos conhecimentos e para consumirmos novos serviços, sobretudo neste tempo de isolamento e pandemia. No entanto, essas facilidades tendem a ocultar o “deserto” em que se transformou o espírito de tantos homens e mulheres, que, em vez de utilizarem essas mídias como meios – conforme indica o próprio nome – para fins nobres, como a solidariedade e a partilha do conhecimento, prendem-se a tais tecnologias, como se fossem fins em si mesmos, o que resulta em dependências afetivas não só das pessoas com quem se comunicam, como das próprias plataformas que utilizam.
Assim como o ouro, as tecnologias também são criadas por Deus, que deu inteligência ao ser humano. E é desejo seu que utilizemos dos meios disponíveis na criação para aperfeiçoarmos a nossa vida e a de nossos semelhantes. Mesmo assim, por desígnios que muitas vezes não conseguimos compreender, Ele permite que enfrentemos tribulações, como as que o povo passou no deserto e os tantos males humanos, psíquicos, sociais e espirituais pelos quais passamos hoje. No entanto, não podemos nos fiar no ouro e na prata, nem mesmo na tecnologia, como a garantia de que nossos problemas serão resolvidos, assim como o povo confiou na suposta força trazida pelo bezerro. Não é nas criaturas, mas somente em Deus que devemos colocar a nossa confiança, acreditando no seu amor gratuito e generoso, que nos dá força para enfrentar todos os perigos, sem desprezar os meios que temos à nossa disposição para nos ajudar, mas também sem nos apegarmos a eles, de modo que nos afastem do Criador.
João Victor Melo Sales é aluno do 1o. ano no bacharelado em Teologia na Faculdade Católica de Fortaleza. Atividade para a matéria Introdução à Sagrada Escritura (Profa. Aíla Pinheiro, nj).
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