quarta-feira, 22 de julho de 2020

A atuação das Mulheres na história do Povo de Deus




Deus criou o homem à sua imagem,
À imagem de Deus ele o criou,
Homem e mulher ele os criou.”

(Gn 1,27)


Podemos nos perguntar como é possível esquecer das mulheres na Bíblia, se elas estão presentes de uma forma tão forte e atuante. Claro que, para isso, precisamos de um olhar mais atento e perspicaz. Devemos lembrar que a Palavra de Deus é humana e divina. Ela foi inspirada pelo Espírito Santo e escrita por seres humanos, é fruto de seu tempo com todas as consequências decorrentes disso. A Bíblia surgiu em meio a uma cultura patriarcal e machista, nela a mulher tinha uma delimitação bem precisa de sua área de atuação. No entanto quando passeamos pela história da salvação vamos observando o quanto as mulheres foram além dessas fronteiras culturais, com toda a simplicidade e discrição. Usando diversas vezes as armas que lhe caiam nas mãos em situações conflituosas. Propomos fazer um passeio pela nossa história, a história do povo de Deus, e tentarmos perceber a atuação dessas mulheres de Deus, que têm muito a nos ensinar.

As Escrituras narram que no início Deus criou homem e mulher para cuidarem da terra, regarem, e a protegerem, mas, os dois (homem e mulher) foram desobedientes e por isso acabaram saindo do jardim do Éden. Contudo, o Senhor não desistiu da humanidade e a convidou a fazer com Ele uma aliança. Essa aliança foi renovada com Abraão, ele é conhecido como o Pai da fé, aquele que sendo chamado por Deus abandonou sua terra e saiu em busca daquilo que lhe foi prometido. Abraão é conhecido como o Pai da fé, porque confiou nas promessas a ele feitas. Se ele é o Pai não será Sara, sua esposa, a mãe? Não abandonou ela, juntamente com ele, sua terra e seguiram juntos confiando na palavra de Deus? Abraão teria suportado tudo e se mantido fiel, caso não tivesse contado com o apoio e a força de sua companheira Sara?

Quando Moisés foi chamado por Deus a ser o libertador de seu povo da escravidão infligida aos hebreus pelos egípcios, estava ele sozinho? Não tinha ao seu lado seu irmão Aarão e sua irmã Miriam, não foi ela que cantou o Cântico de vitória, encorajando seu povo a prosseguir até o fim na passagem do Mar Vermelho em meio a perseguição dos egípcios? (Ex 15,20).

Durante o tempo que Moisés caminhou à frente de seu povo no deserto ele contou com a ajuda e apoio de Miriam. Ela era uma mulher forte e corajosa a ponto de questionar a autoridade de seu irmão Moisés, mesmo sendo castigada por isso. Enquanto ela esteve com lepra o povo não levantou acampamento, esperou seu retorno e só então partiu (Nm 12,1-3.15-16). Isso nos revela o quanto ela era importante dentro da comunidade. Miriam é conhecida como profetisa.

Além dela temos Débora que aparece no Livro dos Juízes. Débora era uma profetisa e juíza em Israel. Naquela época os cananeus oprimiram os filhos de Israel, ela então profetizou que o Senhor daria a vitória ao seu povo e mandou reunir o exército, mas o líder Barac teve medo e exigiu a presença dela na batalha, ela foi mas anunciou que seria pela mão de uma mulher que o Senhor daria a vitória a Israel (Jz 4 e 5). Nessas situações de guerra não podemos esquecer de Judite que derrotou o chefe do exército, cortando-lhe a cabeça. Ela entrou no acampamento inimigo, ganhou a confiança do chefe e com isso deu a seu povo a vitória. Ela derrotou todo um exército porque colocou a confiança em Iahweh e não na força física ou nas armas. E Ester, a rainha, que conseguiu salvar seu povo do extermínio graças a sua intercessão? Poderíamos falar de muitas outras mulheres do antigo Testamento: Rebeca, Raquel, Lia, Tamar, Ana, Abigail, Micol, Bersabéia, Hulda, Rute, todas elas têm em comum o fato de intervirem na história de seu povo de maneira bem concreta, em situações da vida cotidiana, sempre demonstrando confiança em Deus e amor a seu povo.

No Novo Testamento Maria, mãe de Jesus representa “o resto de Israel” que permaneceu fiel às promessas do Antigo Testamento. Assim também como Isabel sua parenta, que concebeu já na velhice à semelhança de Sara. Ana, a profetisa anunciou a todos no Templo que o menino Jesus era o redentor. (Lc 2,39-38). A primeira testemunha da ressurreição de Jesus é uma mulher, Maria, Madalena, este fato é apresentado nos quatro evangelhos. A primeira pessoa a tomar conhecimento do nascimento de Jesus foi uma mulher e a primeira a saber de sua ressurreição também. As mulheres tiverem uma presença forte e atuação constante durante a vida pública de Jesus e permaneceram fiéis até o fim de sua vida terrena e anunciaram sua volta ao seio do Pai. (Lc 8,1-3). Elas seguiram o Senhor e Ele as curou, consolou e amparou em situações difíceis, sempre solícito para com suas necessidades e aflições.

Será que as mulheres de hoje se vêm representadas nessa história da salvação? Será que elas sabem da importância e atuação dessas outras mulheres que citamos acima? Conhecer o nosso passado nos ajuda a melhorar nosso presente. A mulher é antes de tudo uma fortaleza, embora muitas vezes adormecida. Ter conhecimento do que nós, mulheres, fomos capazes de fazer na história da salvação, num contexto de opressão, discriminação e repressão, nos inspira a continuar lutando de forma constante na construção desse Reino que também é nosso, pois como disse o apóstolo Paulo em Gl 3,28 : “Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus.



Ir Luciene Lima Gonçalves é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém, mestra em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP (2020). É especialista em Estudos Bíblicos pela Faculdade Católica de Fortaleza (2015) Graduada em Filosofia (ITEP) e Teologia pelo Instituto de Ciências Religiosas - ICRE (2007).

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