A bíblia é o meio privilegiado pelo qual temos acesso às antigas tradições do povo de Israel. A arqueologia, as ciências da linguagem e a etiologia, entre outras ciências, também fornecem uma base para os estudos sobre Israel e Oriente Médio antigos. É por intermédio dos textos bíblicos e do aprofundamento desses estudos, que conhecemos os diversos problemas enfrentados pelo denominado “grupo de Moisés” no período que se estabeleceram em Canaã e posteriormente quando se tornaram uma monarquia.
O contexto histórico do povo de Israel, é coberto de incertezas politicas e, em muitos casos, religiosas. De escravos do Egito, para seminômades que vagavam no deserto em busca da terra prometida, uniram-se a eles diversos povos que acreditaram na promessa do Deus libertador. Madianitas (Ex 18,1-5), cananeus (Js 6,17), moabitas (Rt 1,1418) e outros povos foram se agregando aos poucos a Israel, formando um único povo da aliança.
Muitas foram as dificuldades encontradas até chegarem à terra de Canaã, fome, sede, problemas sociais, culturais, entre outros, que as tribos tiveram que enfrentar até se estabilizarem. Mas uma coisa há de se destacar, é que sempre tiveram líderes escolhidos por Deus. Até que, sendo prescionado, Samuel indicou um rei para conduzir as tribos nos moldes da cultura dos povos vizinhos.
A miscigenação dos povos, que aconteceu na época do êxodo e nomadismo, trouxe a dificuldade de adorar a um só Deus. Passar a crer em uma só divindade foi difícil para aqueles que acreditavam em outros deuses, deusas e, até mesmo, imolavam seres humanos em sacrifícios.
Outra dificuldade a ser destacada, e que perdurou por muito tempo, foi a rivalidades das tribos do Sul com as tribos do Norte, até o período do governo centralizado, a monarquia, quando Saul foi ungido, depois Davi e por último Salomão, como reis de todas as tribos dos hebreus.
O povo de Israel enfrentou adversidades que eram próprias daquele tempo e cultura, mas que, em muitos traços, lembram infortúnios que passamos no atual cenário ocidental.
Em comparação com nossa época, vivemos em um tempo de constantes mudanças, dificuldades e descrenças. Os governantes acabam agravando e propagando esses problemas no sentido econômico, a exemplo dos reis de Israel, que se preocupavam mais com as guerras, invasões de terras e ambições que com o povo. Da mesma forma que os reis de Israel colaboraram co a idolatria, os governantes atuais colaboram com o crescimento da secularização e o progressivo avanço da perda dos valores que antes eram compreendidos como sendo religiosos e que hoje estão perdendo aos poucos sua sacralidade. Unido à secularização encontramos o materialismo, segundo o qual o que interessa é o ter cada vez mais. A opulência do poder, interessa demasiadamente mais que valores que condizem com uma vida melhor.
Como a sociedade israelita, em especial o Brasil é um povo miscigenado, um povo de muitas misturas e com origem em diversas nacionalidades, que enfrenta dificuldades até parecidas com as daquela época. A busca para sair dessa situação é urgente, e é na bíblia que encontramos o caminho, para vencer todas essas adversidades.
O reino de Israel, mesmo tendo permissão divina, estava carregado de desentendimentos internos, posturas abusivas de governantes, disputa por poder, vinganças e golpes políticos. Isso não difere muito do cenário atual, e mesmo que tenham sido criadas muitas leis que resguardam a justiça e a verdade, perduram ainda muitas injustiças que já eram notadas no passado, no antigo Israel. Tudo isso acontece em decorrência do abandono dos valores e ensinamentos religiosos.
Enquanto Jesus reafirma os mandamentos “Não matarás”, “Não roubarás”, e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, vemos isso ser transformado em filosofias ou até mesmo em teorias que abandonam o real sentido do que é ensinado pela religião.
O “grupo de Moisés” tem muito a nos ensinar, inicialmente, a superação da indiferença e da descrença no Deus libertador, que ama e cuida de toda a comunidade. É através desta perspectiva que muitos daqueles agregados ao povo de Israel, enxergaram em Deus um herói, libertador e salvador, que sempre cumpre suas promessas. A proximidade dos povos bárbaros com o Deus de Israel é verídica, não é uma coisa abstrata e arbitraria, mas vivaz, que afetou e tocou a todos.
Por fim, as características encontradas para a vivência dos valores religiosos exigidos da monarquia de Israel, são válidas para a atualidade, desde o reconhecimento de um único Deus como salvador e libertador até a resposta concreta que se deve dar a Ele. A fidelidade que os hebreus tiveram para com o Deus de Israel, mesmo em meio a diversas tentações, deve ser também a mesma hoje, sobretudo quando se percebe que o materialismo, capitalismo e muitas outras teorias ou ideologias de poder, não trazem valores constitutivos que preenchem o vazio humano.
Ronário Mota Rodrigues é seminarista da Diocese de Itapipoca, graduado em filosofia pela Faculdade Católica de Fortaleza onde atualmente cursa o bacharelado em Teologia. Atividade para a matéria de Introdução à Sagrada Escritura, Profa Aíla Pinheiro, nj.
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