Roteiro homilético para a Epifania do Senhor - 5 de janeiro de 2014
Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj*
I. INTRODUÇÃO GERAL
Na liturgia sobre a Encarnação do Cristo o enfoque estava na
humanidade dele; hoje celebramos a manifestação e o reconhecimento
de sua origem divina. O que celebramos na liturgia é o que esperamos: que
todos os povos reconheçam e adorem, em Jesus, o Deus de Israel. A primeira
leitura anuncia a vocação das nações à fé no Deus vivo e verdadeiro. No
evangelho, vemos em torno de Jesus os magos (sábios do Oriente), como
representantes de todos os povos, para prestar-lhe homenagem e adoração.
Na humildade do ambiente onde se encontra o menino, deve-se reconhecer a
luz da salvação oferecida por Deus a todos os seres humanos. Também
Paulo fala desse grandioso mistério que ele mesmo teve a missão de
anunciar: os gentios são chamados a formar o mesmo corpo, isto é, a ser
participantes da mesma promessa anteriormente destinada apenas a Israel.
É na luz de Jesus que caminham os cristãos e é para essa luz que deve
se encaminhar toda a humanidade.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 2,1-12): Vimos sua estrela e viemos adorá-lo
Epifania significa literalmente manifestação. Nesta solenidade, a
liturgia nos apresenta a manifestação da universalidade da salvação
realizada em Cristo. Jesus, o rei dos judeus, é adorado pelos magos
(sábios do Oriente), representantes de todos os povos. Isso significa
que a promessa feita primeiramente a Israel atinge agora a todos os que
acolhem o Cristo.
Na época em que o Novo Testamentofoi escrito, os povos ainda eram
politeístas (adoravam muitos deuses). Por isso se usava a metáfora de
que as nações caminhavam nas trevas, enquanto Israel era orientado pela
luz da Escritura.
Com a entrada de Jesus na história, a palavra de Deus incultura-se. O
evangelho afirma que alguns sábios estrangeiros (do Oriente) viram a
estrela e a seguiram. Isso significa que Deus se valeu da admiração que
os astros exerciam sobre as nações politeístas e as guiou para o Cristo.
Os sábios orientais enfrentaram um caminho desconhecido e encontraram o
menino, a verdadeira luz, da qual a estrela era apenas um sinal. Os
sábios se deixaram guiar e encontraram um menino muito mais humilde e
também mais importante do que pensaram. Depois daquele encontro, eles
percorreram outro caminho, não mais guiados por um corpo estelar, mas
pela estrela de Davi, o Messias. Seguiram o caminho indicado por Deus, o
caminho que é a verdade e a vida, o próprio Jesus.
O evangelho afirma que os mestres (ou sábios) judeus tinham
conhecimento até do local onde deveria nascer o Messias descendente de
Davi. Mas, apesar de serem os primeiros destinatários das promessas de
Deus, aqueles mestres de Jerusalém não acolheram a luz verdadeira que é
Jesus. Foi necessário que sábios estrangeiros viessem do Oriente para
lhes anunciar (orientar sobre) a chegada do Messias de Israel, quando,
ao contrário, Israel é que deveria orientar as nações para Deus.
2. I leitura (Is 60,1-6): As nações caminharão na tua luz
Quando o povo de Israel foi expulso da Terra Prometida e se dispersou
pelo mundo, sentia-se mergulhado nas trevas das nações politeístas e
violentas. Mas, apesar dessas circunstâncias, o profeta vê um final
glorioso: quando tudo parecer desmoronar e dissolver-se na escuridão, a
glória de Deus será refletida por meio de Israel e iluminará as nações,
que começarão a andar na luz do amanhecer de um novo tempo.
O profeta está convencido de que os judeus retornarão para a Terra
Prometida e de que as nações nas quais eles estavam dispersos verão a
glória de Deus refletida no povo de Israel e então também elas se
encaminharão para Jerusalém. Israel será como um oceano de luz para as
nações antes imersas nas trevas do politeísmo.
3. II leitura (Ef 3,2-3a.5-6): Em Cristo, os gentios participam da promessa
Paulo afirma ter recebido um encargo sagrado (v. 3): foi-lhe
conferida a graça de proclamar o evangelho aos gentios, ou seja, aos não
judeus.
O apóstolo insiste que sua atividade missionária entre os gentios não
foi uma decisão pessoal. Dar a conhecer o evangelho a todas as nações
foi um ato poderoso de Deus em seu plano eterno de salvação da
humanidade. Coube a Paulo a docilidade e a fidelidade ao chamado divino.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O enfoque da liturgia de hoje não está na devoção aos magos, mas sim na manifestação da divindade de Jesus e no apelo à missão.
Quem vê a luz da estrela deve pôr-se a caminho. Solicitude e
prontidão são as atitudes dos magos e do apóstolo Paulo, que servem de
exemplo aos cristãos de nosso tempo.
No hoje de nossa existência, faz-se necessário reconhecer a luz de
Cristo numa sociedade dividida na pluralidade de tantas luzes que
apontam para várias direções, mas nem sempre refletem a luz
inextinguível que é o Cristo.
Para que as pessoas de hoje possam adorar o Deus vivo e verdadeiro, é
necessário que os cristãos saiam do comodismo e individualismo e, por
meio da missão e do testemunho de vida, façam brilhar para o mundo a
“estrela de Davi”, o Filho de Deus.
Publicado originalmente na Revista Vida Pastoral, ano 54, número 293, novembro-dezembro de 2013.
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* Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas).
Um comentário:
Irmã Aíla sempre nos mostrando um norte diante da mensagem do Evangelho. Gratidão
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