Roteiro Homilético para o 3o. Domingo do Advento - 15 de dezembro
Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj*
I. INTRODUÇÃO GERAL
As leituras de hoje têm um tom festivo. O destaque vai para os que se
escandalizam com as ações de Jesus porque esperavam um messias
rigoroso. A práxis de Jesus, ao contrário do que se esperava, está
alicerçada na misericórdia, portanto sua mensagem é uma boa notícia que
alegra e anima aqueles que estavam sobrecarregados com o peso do
sofrimento.
Na primeira leitura, o profeta nos encoraja a confiar no Deus fiel
que está empenhado em redimir o seu povo. E a carta de Tiago nos pede
paciência para suportar as demoras de Deus.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 11,2-11): És tu aquele que deveria vir?
Nesse terceiro domingo do advento, o evangelho destaca as ações de
Jesus como testemunho de que ele é o Messias. A pergunta: “És tu, aquele
que há de vir, ou devemos espera outro?” (v. 3), revela uma dúvida
sincera e profunda. João havia anunciado a vinda do reino de Deus como
um julgamento, simbolizado pelo machado e pelo fogo, ou seja, a pregação
de João sobre o Messias enfatizava o juízo final (cf. 3,1-10). A
pregação de Jesus era diferente, e isso causou espanto em João, talvez
Jesus não fosse o Messias, cogitava ele.
A maneira como Jesus contestou a pergunta de João é muito mais
convincente do que uma resposta direta. Em vez de dizer que sim, fez
algo melhor. Ofereceu aos discípulos de João evidências irrefutáveis de
sua identidade. Em sua resposta, Jesus faz referência aos sinais que
realizou (cf. Mt 8-9). Esses sinais, à luz dos oráculos proféticos (Is
35,5-6; 42,18; 61,1), revelam melhor que qualquer outra resposta que
Jesus é o Messias, o esperado por Israel.
No entanto, a resposta de Jesus não é uma afirmação formal de
messianidade. Alude a alguns fenômenos que, no AT e no judaísmo, eram
característicos da era messiânica.
A resposta de Jesus também expressa que sua mensagem é uma boa
notícia. O messianismo e a compreensão de João sobre o fim dos tempos
necessitavam ser corrigidos pela proclamação de Jesus. Sua messianidade
não consiste em um juízo escatológico de ira, nem na instauração de um
império sobre todos dos reinos da terra, nem numa guerra de extermínio
contra todos os inimigos do povo eleito. A messianidade que aqui se
sugere consiste em distribuir bênçãos. Por isso, Jesus convida João a
olhar os sinais e perceber, neles, a ação salvífica de Deus em prol do
seu povo.
2. I Leitura (Is 35,1-6a.10): Ele vem para salvar
O texto de Isaías é um hino de alegria pela redenção de Sião
(Jerusalém) que simboliza o povo da aliança exilado na Babilônia
(587-538 a.C.). Esse hino é marcado por vários temas do êxodo, a saída
do Egito. Isso significa que o profeta quer inculcar nos leitores a
ideia de que o retorno do exílio é um novo êxodo. O texto começa com o
anúncio de uma festa que chega até o deserto mediante a travessia dos
exilados, numa peregrinação santa de volta à terra de Israel.
No grupo que sai em viagem há pessoas frágeis, vacilantes, medrosas
(v. 3-4), mas também há quem esteja mais seguro e, por isso, deve animar
os mais fracos. O fundamento desse ânimo é a certeza da proximidade do
Senhor. Essa certeza de que o Senhor está próximo é o que os põe a
caminho. Até mesmo os coxos se deixam contagiar pelo entusiasmo e
conseguem manter-se no ritmo da marcha.
Poder andar, ver e ouvir (situações contrárias às de coxos, cegos e
surdos) era extremamente necessário para fazer parte de uma caravana. O
caravaneiro (guia) gritava e gesticulava sinais para conduzir a caravana
na qual a maioria andava a pé. Somente quando os fracos, vacilantes e
medrosos são fortalecidos é que se podem perceber os sinais do Senhor
que está com eles a caminho. É por isso que os sinais dados por Jesus a
João mencionam a cura das pessoas com essas limitações para participar
da caravana.
A alegria vai vivificando o caminho, o motivo do júbilo é a redenção
trazida pela proximidade do Senhor. A transformação do deserto unida à
mudança no ânimo das pessoas também é sinal de que Deus está agindo,
pois a descrição desses fatos é o oposto do que foi afirmado em Is 33,9
quando a trajetória era inversa, ou seja, quando saíram de Jerusalém
para a Babilônia e as terras férteis se transformavam em deserto.
3. II Leitura (Tg 5,7-10): Ele está às portas
A segunda leitura nos pede paciência para suportar a demora da
parusia (a vinda do Senhor). Mas paciência não deve ser entendida
simplesmente como resignação diante daquilo que não podemos fazer.
Tampouco significa apenas submissão ou tolerância diante das fraquezas
do próximo. A paciência que o texto descreve é a capacidade de “ampliar o
ânimo” (macrotimia) para suportar a demora. A paciência, nesse texto,
se refere à constância, à perseverança e integridade na vida cristã
enquanto o Senhor não vem.
O agricultor é o grande exemplo de paciência, pois é quem amplia o
próprio ânimo enquanto o fruto cresce vagarosamente e aguarda as chuvas
que possibilitam fazer boa colheita. A menção das chuvas temporãs e
tardias, frequentemente citadas no Antigo Testamento para elencar os
benefícios de Deus (Dt 11,14; Os 6,3), mostra como eram extremamente
importantes para o agricultor na Terra Santa. Se Deus não as enviasse
não haveria colheita.
A atitude do cristão durante o tempo da espera pelo Senhor deve ser
análoga à do agricultor. Os cristãos devem manter a grandeza de ânimo
fortalecendo seus corações no evangelho de Jesus Cristo. Fortalecer o
coração é unificar todas as dimensões da existência sob uma meta que é o
reino de Deus e sua justiça.
A amplitude de ânimo mencionada por Tiago evita, nos cristãos,
atitudes de murmuração e julgamentos contra o próximo e os mantém em
continuidade com a vocação dos antigos profetas.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
A homilia deve manter o tom da alegria dentro do tempo penitencial do
Advento. As leituras apontam para essa temática, sem deixar de enfocar a
perspectiva da vinda de Cristo, que deve ser alimentada pela certeza da
ação de Deus em prol dos fracos e vacilantes.
Muitas pessoas ainda hoje esperam que Deus seja rigoroso com os
pecadores. Creem mais num Deus juiz do que misericordioso. Por isso
acabam afastando as pessoas da Igreja com seus discursos moralistas. É
importante ressaltar que a pregação de Jesus não vai por esse caminho.
Suas ações dizem por si mesmo qual é a postura de Deus em relação aos
pecadores.
O advento é tempo propício para a tomada de consciência do papel do
cristão no mundo, que não consiste em julgar as pessoas, mas animar os
que sofrem e exigir dos acomodados que saiam do seu conforto para ajudar
os sofredores, e não esperar que as soluções dos problemas caiam
automaticamente do céu.
Publicado originalmente na Revista Vida Pastoral, ano 54, número 293, novembro-dezembro de 2013.
_______________
* Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas).
Nenhum comentário:
Postar um comentário