quarta-feira, 13 de julho de 2011

O crescimento do Reino e a Misericórdia de Deus (Mt 13, 24-43)


16º Domingo do Tempo Comum - Ano A





O texto de Mt 13,1-23 apresenta o Reino de Deus como uma semeadura. Os relatos que vêm em seguida (Mt 13, 24-43) desenvolvem mais profundamente esse tema por meio de outras parábolas. O texto começa com parábola do joio plantado no trigal (v. 24-30). O mundo é um campo misto, onde o trigo e o joio crescem; e é impossível separar o trigo do joio, enquanto estivermos neste mundo, uma vez que estão bem misturados.

Jesus nos pede paciência. Ele nos ensina, com a própria vida, que somos capazes de existir e de dar frutos em um mundo plural, numa época em que o bem e o mal estão entrelaçados. Portanto, não devemos transformar o mundo num campo de batalha, cada um querendo eliminar seu adversário. Certamente existe o joio, mas não é possível traçar uma linha no chão e dizer “deste lado está o bem e do lado de lá está o mal”. O joio está tão misturado com o trigo, que até mesmo no interior e nas ações das pessoas mais religiosas o joio está presente. Somente no fim dos tempos Cristo poderá separar o joio do trigo.

Por enquanto, permanece o mundo paradoxal. Essa ideia é completada pelas parábolas que vêm em seguida: a da menor semente (v. 31-32) e a do fermento nas três medidas de farinha (v. 33). Primeiramente, Jesus mostrou uma oposição entre duas sementes e entre dois semeadores; agora, destaca o contraste entre o tamanho da semente e o tamanho da hortaliça e entre a pequena medida de fermento e a quantidade da massa. As oposições convivem no mundo. Os servos do dono da casa querem antecipar o juízo dentro da história, destruindo o joio à força. Esta é a tentação de nosso momento histórico, queremos eliminar as oposições pela força da violência contra o outro que temos por adversário ou desafeto.

Cristo, ao contrário, não entende o mundo como um campo de batalha e deixa a sua semente crescer e amadurecer no meio do joio. Um mundo onde só existe o trigo é outro tipo de mundo, no qual se vive plenamente o amor, e o Cristo o chamava de Reino de Deus. Se formos intolerantes com as pessoas, isso mostra que o joio está em nós, porque não estamos produzindo frutos de amor, mas de violência velada e sutil. E violência é fruto do joio semeado no coração.

E como fica a luta por justiça? Ela deve permanecer. Devemos estar atentos para que o joio não seja semeado e não contamine o campo inteiro. O que Jesus nos proíbe é fazer justiça com as próprias mãos, é disseminar o ódio e a violência. Jesus espera que sejamos o bom trigo e não o joio.

Os cristãos são muitos, mas os que verdadeiramente seguem Jesus constituem um pequeno número, são como a mostarda e o fermento, mas, como a força do trigo é o amor, esses poucos e verdadeiros cristãos fazem com que este mundo caminhe para uma plenitude. Enquanto não chega o fim dos tempos, devemos agir como Deus age.

Para o livro da Sabedoria (Sb 12,13.16-19), Deus é o Senhor absoluto de todas as criaturas e não há outro Deus: essa é a afirmação bíblica do monoteísmo. Apesar de sua onipotência, ele prefere agir com misericórdia em relação às suas criaturas. O domínio de Deus sobre as criaturas estende o amor dele sobre todos os seres, com especial atenção ao ser humano, mais digno de misericórdia porque é o único que peca. Isso não significa que Deus não seja justo, mas que nele se harmonizam misericórdia e justiça.

O modo como Deus age em relação aos incrédulos e aos pecadores leva o autor do livro da Sabedoria a concluir que Israel deve agir para com todos os povos, igualmente, com misericórdia, a exemplo de Deus, misericordioso e compassivo. Ao levar a sério o monoteísmo, Israel teve uma lição de humanismo, teve de ir além da lei do “olho por olho”. Isso preparou o povo para a revelação do Novo Testamento sobre o amor aos inimigos. O texto do livro da Sabedoria também sugere que a salvação é para todos os povos, e isso prepara o anúncio da salvação universal feita pela Igreja primitiva.

Salvação que não é obra humana, afirma o texto de Rm 8,26-27. A salvação é dom de Deus e vem a nós por intermédio de Jesus Cristo. O nosso empenho consiste é na santificação, pelo Espírito Santo. A santificação é realizada ao longo de nossa existência numa configuração de nossa vida ao modo como Cristo viveu, ou seja, fazendo a vontade de Deus.

Mas é difícil ajustarmo-nos à vontade divina; em muitos momentos da vida não conseguimos nem discerni-la. Não sabemos sequer o que pedir a Deus, e muitas vezes, sem saber, insistimos com ele para que nos conceda algo que poderá ser prejudicial a nós ou aos outros. Somos como bebês que tentam se comunicar sem ainda poder articular palavras compreensíveis, que fazem sons sem sentido como reação às palavras, olhares e carinhos dos adultos. O Espírito Santo, em nós, faz a mediação, transmitindo ao Pai o que não conseguimos expressar devido à nossa pequenez, à nossa fragilidade.

O Espírito Santo se faz solidário a nós, não tira a nossa fraqueza, mas nos ajuda em nossa debilidade. Sem a ajuda do Espírito Santo, não saberíamos sequer o que dizer a Deus em nossas orações. Mesmo quando pensamos que sabemos o que devemos pedir, podemos estar totalmente equivocados. O dom do Espírito Santo é a prova de que Deus cuida de nós em todos os sentidos.

Ir Aíla Luzia Pinheiro de Andrade é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas) e Palavra Viva e Eficaz (Paulus).

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