quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

VÓS SOIS A MINHA LUZ E A MINHA SALVAÇÃO


Aíla L. Pinheiro de Andrade*

Roteiro Homilético para 3º Domingo do Tempo Comum

I. INTRODUÇÃO GERAL

Mateus, ao iniciar a narrativa da ati- vidade apostólica de Jesus, viu a profecia de Isaías tornar-se realidade perante seus olhos. A luz que ilumina a Galileia e de lá se difunde para o mundo inteiro é Cristo e o Reino por ele anunciado. Cristo e o Rei- no são inseparáveis. O início da pregação de Jesus é que o Reino está próximo, não porque está chegando, como afirmava o Batista, mas porque está ali ao lado, o Reino está em Jesus. A vocação dos apóstolos e a cura das enfermidades são sinais de que o Reino chegou e sua luz está se expandindo e dissipando as trevas do pecado e do mal. A resposta imediata e o generoso abandono das redes por parte dos primeiros discípulos significam que a propagação desse reino é urgente. Na atividade missionária, há mui- tos carismas e ministérios que não devem ser concorrentes, pois a todos foi dado o mandato de anunciar o evangelho de formas diversificadas.


II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. Evangelho (Mt 4,12-23): O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz

O tema da luz, já mencionado na narra- tiva da infância de Jesus, continua aqui, no relato inicial de sua atividade na Galileia. A atuação pública de Jesus apresenta-se como realização das promessas de Deus para salvar seu povo. As cidades de Zabulon e Neftali, que, no Antigo Testamento, estavam dominadas pelos estrangeiros, representam agora a realização da profecia messiânica. Deus realiza a salvação prometida: uma luz surge onde há sombras e trevas, porque o reino de Deus está próximo, está presente no Cristo.
Na atuação de Jesus na Galileia, cidade miscigenada por diversos povos que viviam nas trevas do pecado e do politeísmo, a luz começa a brilhar e se expandir, pois o reino de Deus é anunciado. A cura dos en- fermos testemunha a expansão desse reino. Mas esse é só o início, pois o Reino deve ser anunciado a todos os povos. Por isso, o apelo de Jesus é forte, o chamado dos apóstolos é urgente. Para que a luz chegue a todas as nações, é necessário que os cristãos se empenhem em responder prontamente ao chamado de Cristo, como fizeram os apóstolos, que, deixando suas redes de pesca, o seguiram.

2. I leitura (Is 8,23b-9,3): Aos que viviam na sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz

A Galileia era sempre a primeira região a sofrer os estragos provocados pelos im- périos estrangeiros que guerreavam contra a terra de Israel. Isso porque era uma rota mais acessível que o deserto ou o mar Me- diterrâneo.
Além de ser a primeira região a sofrer o ataque dos inimigos, a Galileia é a região por onde o povo de Israel foi deportado para o estrangeiro. Por isso, as expectativas messi- ânicas concentravam a atenção na Galileia como cenário da primeira manifestação da luz messiânica, já que seria a primeira região a receber a libertação, como antes tinha sido a primeira a experimentar a escravidão.
O “caminho do mar” ficava na região da Galileia. Era uma estrada entre a terra de Neftali (ao norte) e a terra de Zabulon
(ao sul). Os judeus acreditavam que nessa estrada se manifestaria o Messias, trazendo de volta para a Terra Prometida os judeus dispersos pelo mundo. Essa região sombria, testemunha de tantos sofrimentos, conver- ter-se-ia em cenário de alegria. Porque o cetro (o poder) dos inimigos seria totalmente destruído pelo Messias. A vitória messiânica é apresentada em analogia com o “dia de Madiã”, quando Gedeão venceu o inimigo de modo excepcional (Jz 7,16-25).

3. II leitura (1Cor 1,10-13.17): Cristo me enviou para pregar o evangelho

Paulo agradece a Deus por não ter bati- zado nenhum coríntio. Isso não significa que desvalorize o batismo, mas apenas que rece- beu outro encargo, a pregação do evangelho aos gentios (os não judeus). Encargo que ele exercia com base no conteúdo fundamental do evangelho e não na eloquência da retóri- ca (sabedoria das palavras), tão valorizada pelos coríntios. A vida, morte e ressurreição de Cristo constituem o núcleo básico (o conteúdo fundamental) da proclamação do evangelho, e nisso Paulo desejava que os coríntios concentrassem toda a atenção.
Além do uso da retórica, os destinatários também supervalorizavam alguns missioná- rios. Isso causava sério problema de divisões dentro da comunidade. A formação de grupos e a antipatia entre eles impediam a unidade da comunidade.
Com a expressão “vós sois de Cristo”, o apóstolo condena o partidarismo dentro da Igreja. Pelo batismo, os cristãos se iden- tificam com Cristo, não com o ministro que está a serviço da comunidade. Já que a Igreja é o corpo de Cristo, não deve estar dividida sob nenhum pretexto.


III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Enfatizar a união dos membros da Igreja. A unidade na Igreja não pode ser entendida como simples união de pessoas afins ou com os mesmos ideais, como se fossem membros de um sindicato ou partido político. É algo mais profundo. É uma união misteriosa; em palavras teológicas, é uma união mística. Mas não metafórica, e sim vital e real, que supera todas as realidades que causam a di- visão. Cada membro é distinto dos demais e os carismas são diversos, mas isso não significa divisão, e sim que Deus respeita a identidade de cada ser humano. A união entre os diversos membros da Igreja é como o feixe de luz, cuja diversidade não é notada a olho nu, mas no prisma ou no arco-íris é visto em cores variadas. A união na Igreja deve-se ao Espírito Santo presente como vínculo que une e vivifica cada membro em função da edificação do reino de Deus. Se há divisão entre os membros da Igreja, isso significa que as trevas do pecado es- tão tomando o espaço destinado à luz. A unidade na Igreja é luz que irradia para o mundo a fraternidade universal instaurada por Cristo.

* Aíla L. Pinheiro de Andrade é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Leciona na Faculdade Católica de Fortaleza e em diversas outras faculdades de Teologia e centros de formação pastoral.

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